Não precisa ser aquele político corrupto, safado. Nem colocar dinheiro na cueca, roubar e depois devolver em suaves prestações (achando que a atitude é um poço de ética), mandar o colega "engulir e digerir as palavras da maneira que lhe convir". Pra me dar raiva mesmo, me fazer pular sobre um rosto sorridente num papelzinho, basta o cara ser falso.
Nem me esforcei muito para lembrar de exemplos, porque nesse segundo turno existem dois fenomenais. E aposto que vocês também perceberam.
José Serra. Aquele mesmo (alguém viu o debate da Globo?) que disse que ia pegar a régua e medir as duas adversárias, e que Dilma e Marina tinham muito mais coisas parecidas do que quaisquer outros ali. Legítima defesa: como Marina, uma candidata medíocre, com seus 10% de intenções de voto nas pesquisas infalíveis, poderia ousar dizer que o plano de campanha de Serra era um mundinho cor de rosa (ou azul, sei lá). E que o de Dilma era azul (ou rosa...)? Eu hein!
Pois bem. O primeiro turno veio e vinte milhões de brasileiros provaram que estavam cansados de tucano bicando o PT, o PT caçando tucano. Votaram verde. E o que o Serra disse?
No seu primeiro discurso após a votação congratulou (essa palavra linda mesmo que ele usou) a Marina, "porque ela contribuiu pro jogo democrático no Brasil". Naquele tom de voz que automaticamente associo à falsidade - essas eleições estão me deixando paranóico. Depois inventou outra: que era um ambientalista convicto! Seus comerciais invocam pesquisas dizendo que 51% dos "marineiros" agora estão com ele. E etc, etc, etc...
Como pode tamanha cara de pau?
Vamos logo a outros exemplos porque eu poderia ficar o dia inteiro aqui falando do Serra.
Dilma. Sempre foi radical. Assaltava bancos para combater o regime militar. Foi guerrilheira. Pois bem. Povo brasileiro é um povo conservador, apesar de gringo achar o contrário. E uma certa posição da nossa presidenciável estava causando desagrados: o aborto. Ela era favorável à descriminalização. Sempre foi. Nessas eleições, vendo que o bicho estava pegando para ela por causa disso, nossa lulista resolveu, repentina e convenientemente, mudar sua opinião de vida inteira e se declarar absolutamente contra o aborto.
Muita coisa sobre ela é boato de internet, mas isto não é. (Convença a si mesmo com esse vídeo, 30 segundinhos só). Não parecem duas pessoas diferentes?
E não são só esses dois que são tão hipócritas, quem dera. Nosso próprio presidente, no auge da sua popularidade, só pra citar um exemplo, apóia Collor. Apareceu em um comício o elogiando . (comprovação aqui.) Este safado aí mesmo, que ele cansou de xingar! Sérgio Cabral, governador reeleito do Rio de Janeiro, não parava de criticar Lula. Era muito mesmo, lembro dessa época. Mas as sujeiras do submundo político contribuíram para uma aliança entre os dois, e Cabral de um dia pro outro passou a babar o ovo (só essa expressão mesmo) do presidente. E abandonou seus ex-padrinhos políticos da família Garotinho às moscas. E hoje os critica...
Enfim, sei que isso pode ser necessário para se manter no jogo político... Mas simplesmente não gosto dessas posições flutuantes. Por essa razão penso seriamente em anular meu voto no dia 31: vou estar jogando fora minha opinião, pode ser que um ou outro seja melhor, que o Serra vá privatizar tudo ou que o PT seja mais corrupto: porém, não consigo votar em nenhum dos dois. Se algum deles chegar lá, não vai ser com a minha contribuição, pelo menos.
Queria um dia ser um político ético só pra ver se é realmente impossível fazer essa combinação.