sábado, 17 de julho de 2010

Minha Professora de Cálculo (ou Cotas II - uma opinião diferente)

Um dia normal como todos os outros na escola, professora de Cálculo III entrando na sala, prestes a dar mais uma de suas ótimas aulas sobre integrais de superfície. Mas nesse dia, a matemática ficou um pouquinho de lado e discussões muitíssimo interessantes tomaram conta de quase todo o tempo da aula.

Um grupo de estudantes pertencentes a uma das chapas eleitorais que disputavam a eleição para o DCE da UFRJ (Diretório Central dos Estudantes) entrou na sala, e começou a fazer o que era pra ser uma rápida propaganda eleitoreira. Falaram de suas reinvindicações, como o bandeijão e o meio passe estudantil, manifestaram sua indignação contra o Plano Diretor (plano do governo federal com uma série de objetivos mascarados, como uma crescentre privatização do ensino), entre outros itens, já batidos de tanto serem falados. Até que alguém levantou o braço e perguntou a posição dos caras sobre as cotas.

Eles disseram o que era esperado: consideravam as cotas apenas um paleativo, que a medida não atacava o problema em sua raiz, ou seja, na educação básica. Que eram contra as cotas raciais, mas que poderia ser aberta a discussão sobre as sociais.

A professora, que apenas observava tudo com uma expressão contida de reprovação, interrompeu:

"Me admira vocês, com uma postura tão arrojada, se manifestarem contra as cotas raciais."

Os caras meio que ficaram sem reação, eles não esperavam aquilo. Começaram a balbuciar algo como "mas não faz sentido" ou "não resolve o problema". Aí ela interrompeu de novo:

"O problema é o racismo. As cotas são pra resolver o problema do racismo no país."

Aí começou a explicar. Disse que as cotas eram uma forma de compensação, sobre tudo que os negros passaram durante esses 500 anos no Brasil. Disse também (essa frase abriu minha cabeça) que é necessário criar uma elite negra no país, através da maior inclusão dos negros no ensino superior.

O que ela estava dizendo começou a amansar minha opinião. Antes disso, eu era totalmente contra as cotas, assim como o Léo no post abaixo, e costumava raciocinar assim: "mas o problema está na base..."

O argumento dela é justamente que a cota está aí pra resolver outro problema, que não o da educação básica: mas do racismo histórico! É óbvio que existem negros e brancos. O post de baixo diz que raça não existe. A minha opinião é: lógico que elas existem. Negar isso seria negar uma condição histórica, ser injusto com os nossos antepassados que foram massacrados, escravizados, e que lutaram pra melhorar a condição. O Léo disse aí embaixo: "os movimentos negros insistiram que raça não existe ". A frase é um imenso paradoxo. Se raça não existe, o que seriam movimentos negros? Seria sobre a cor da roupa que eles usam?

Raça existe sim. Assim como a miscigenação delas. Negar isso seria negar uma possível reinvindicação dos negros por uma condição social melhor, para acabar com o racismo, pra conseguir uma igualdade nessa sociedade tão desigual. Acho que o grande ponto da questão é: as raças devem ter condições iguais, oportunidades iguais, qualidade de vida iguais. Até chegar um momento em que realmente possamos dizer: hoje, raças realmente não importam.

Mas para isso acontecer, de início, elas não devem ser tratadas de maneira igualitárias. Tratar como iguais os desiguais é se manter na desigualdade! É lógico que são necessárias ações que melhorem a condição dos negros. Passar 500 anos mantendo uma raça em nível de escravidão e depois de libertá-los, não tomar medidas diretamente a favor deles, é persistir no erro. É ignorar a história.

Esse meu ponto de vista usualmente pode visto pela politicamente correta e culturalmente incorreta sociedade como, racista, desagregador, preconceituoso. Mas não é. O que eu quero é o mesmo que a maioria: igualdade nesse país, seja pra quem seja. Eu adorei ver Barack Obama eleito. E eu gostaria de ver um Barack Obama brasileiro.

Outros poderiam dizer que as cotas implicitamente dizem que o negro é menos capaz que os brancos. Mas é claro que não. Todos são igualmente capazes: é realmente só uma questão de pigmentação de pele, fisiologicamente. Mas historicamente, socialmente, temos de assumir: não foi assim. Não é assim. Infelizmente.

É lógico que o ideal seria: uma melhoria no ensino básico, acabar com a miséria, com as favelas, haver geração de empregos. Um lindo conto de fadas. Mas gente, convenhamos: isso é quase uma utopia aqui no Brasil. Pelo menos a curto prazo. Nós sabemos muito bem a índole das pessoas que estão nos governando, e como é o ciclo vicioso da política no país. Se acharmos que as coisas vão se resolver estando o país do jeito que está, nada vai ser resolvido tão cedo.

Voltando lá à minha sala: alguém levantou o braço e perguntou: "mas professora, não haveria uma tensão racial no país?" A resposta dela foi direta: "mas gente, essa tensão já existe... só que tá mascarada. No racismo do dia-a-dia. Então é melhor que apareça logo".

E eu tenho noção de que a cota é um sistema falho, sim. Uma pessoa branca, descendente de escravos, não entraria pelo sistema? Um negro rico, entraria? É difícil, sempre uma contradição atrás da outra. É um sistema falho que 'atenua' um problema histórico e outro sistema mais falho ainda, o do vestibular.

Portanto, isso tudo que eu escrevi não quer dizer que eu seja a favor do sistema de cotas no Brasil como ele está. Ele é ruim. É implantado de uma forma extremamente errada, não havendo uma fiscalização e um critério efetivos, proporcionando assim mais desigualdade do que resolvendo. Vide os casos dos gêmeos que foram tratados um como branco, outro como negro. Então, eu não estou com a opinião totalmente formada a favor das cotas no Brasil: do jeito que esse país é, muito provavelmente nunca daria certo. Mas não concordo em se atacar a filosofia delas incontestavelmente: elas são muito válidas. O que eu defendo é uma ampla discussão.

Outra pergunta que fizeram: "professora, mas não é uma injustiça? As cotas não tiram o mérito de quem passou no vestibular?"

Ah, mas essa resposta dela foi MUITO boa. Vou até deixar pro próximo post, porque se eu começar a discutir esse outro assunto aqui não termino o texto hoje. Mas pelo menos vocês já sabem do que vou falar: do sistema de vestibular no Brasil, se ele é justo ou não, se realmente existe um "mérito" e como o ENEM entra nessa história. Forte abraço!


Pureza. Igualdade. Seja qual for nossa opinião, é tudo o que queremos no final.

8 comentários:

  1. Art. 5º. "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza".......................................Raça: É o conjunto das características físicas de um determinado grupo de indivíduos. (Dicionário).
    Você dizendo a existência de duas raças q acaba negando um contexto histórico. O nosso mapeamento genético prova-nos que somos iguais, nossas características, tudo. Nós brasileiros somos um miscenação, é impossível negarmos q outrora tivemos um parente negro ou pardo. Pra q cotas para negros?Se todos nos somos um pouco. Não fomos nos, nem os portugueses q inventamos a escravidão e sim eles mesmo.Na África tribos rivais se enfrentavam e aquele q vencia escravizava a outra. Foi um comportamento lamentável, porem um erro do passado não justifica esse erro do presente. Se as cotas realmente funcionassem, SE REALMENTE FUNCIONASSEM, elas apenas segregariam os cotistas negros dos não cotistas. A elite negra que sua professora, ou ate vc almeja não se formara dessa forma. O diploma não significa conhecimento. Nem toda vitima é negra. Esquecemos de mencionar nas cotas os brancos pobres ou ate mesmo miseráveis que por muito tempo viverão uma escravidão por divida, ou ate hoje vivem uma. E Aqueles filhos de nordestino bóia fria que não tem chance de estudar pq não são assistidos da mesma forma.?Sim, nos sabemos a índole dos nossos governantes e eh culpa nossa eles estão lah, ninguém vê nada de errado a mesma cara esta ocupando cargos diferentes. Se falta consciência pra votar, é pq falta conhecimento, e se falta conhecimento, é pq falta educação. Se não se resolve o problema atacando a base, então eu não sei como resolveremos.

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  2. Léo,
    Sim, o problema se resolve atacando a base. Mas alguém está atacando essa base? Alguém vai atacar? É muito difícil a política mudar, é tudo um ciclo vicioso, e acho que você sabe disso melhor que eu. Os políticos não vão dar educação pra população tão cedo, pois sabem que isso os prejudicará. Eu também acho que o ideal é atacar a base, é a medida perfeita, mas você acha que ela vai ser tomada?

    Quando eu digo que existem raças sim, eu digo socialmente, não biologicamente. Por mais que queiramos negar isso, por mais que desejemos que não fosse assim, infelizmente é. Não entendi o que voce quis dizer quando mencionou o fato dos negros terem inventado a escravidão. Quem inventou ou deixou de inventar não deveria nem ser citado aqui, pois para mim não faz diferença nenhuma. O fato é: os negros foram escravizados NESTE PAÍS, e devemos tomar medidas que compensem essa barbárie. As cotas são um erro sim, mas pra mim é um erro menor e que atenuaria esses outros que são a disparidade social e racial no país e o sistema injusto do vestibular.

    E pra mim eu acho que seria muito importante que houvessem mais negros e gente de origem humilde nos cargos mais altos e importantes do país. Se as cotas forem implantadas (da maneira certa), espera daqui a alguns anos pra você ver se não se formará uma elite negra e se a proporcão de negros no alto escalão não vai aumentar. Isso irá aumentar a autoconfiança na população e diminuirá uma disparidade na sociedade.

    Cara, eu realmente acho muito chato ir algumas vezes pra faculdade, entrar na minha sala e não ver NENHUM negro lá.

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  3. Ahh, e esqueci de um detalhe.. tudo isso não significa que eu sou a favor das cotas não... o que eu quero é uma discussão (assim como a que ta acontecendo aqui), que seja visto a melhor maneira de implantá-las, evitando ao mínimo as injustiças, e vendo se compensaria, realmente. Nesse ponto, concordo contigo: cotas, hoje, no Brasil: tá tudo errado.

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  4. Os puristas ante-cotas dizem o cara tem q ralar e estudar q nem ele p ter um diploma,pois bem, estudei,ralei, e me tornei farmaceutico-bioquimico,um profissional de saude.
    aí pego um táxi p voltar p casa semana passada, e a numa blitz da policia, varos carros passam livremente, mas o táxi em q estava foi parado, afinal sou negro, sou suspeito p eles e pra sciedade hipocrita e racista.
    aí eu pergunto de q adianta ralar, estudar e continuar sendo dicriminado, afinal de contas nao é comum negros conseguirem ascensão,se tornarem profissioais de saude.

    só no dia em q for comum negros se tornarem farmaceuticos-bioquimicos,psicologos,juizes de direito, é q deixaremos de ser tratados como marginal em potencial até q se prove o contrario,as cotas servem p isso.
    e muito fácil dizer q as cotas sao injustas com os brancos que fazem o vetstibular,mas esses tem mais oportunidades de se darem bem na vida numa sociedade racista,mesmo sem vestibular,pq faculdade nao é tudo.
    e esquecem q trabalhadores negros ganham cerca de 45% menos q os brancos p fazerem a mesma função, no caso das mulhres negras essa diferença é ainda maior.

    e aí, como fechar essa conta?

    recentemente numa confusão da sport tv com os paraguaios durnte a copa, um jornal paraguaio disse q os brasileros deviam olhar para seus poprios problemas como o racismo, a violencia e outros. mas citou em primeiro lugar o racismo, aé os esrangeiros sabem q somos um pais racista e tem gente q ainda insiste em negá-lo.

    a discussão maior nao sao as cotas, e sim o racismo, nao querem cotas,otimo. mas e aí como vai se resolver o racismo hein? pois o cara pode ralar e virar medico, mas se tiver de folga passeando na rua vai ser sempre marginal até q prove o contrario, se for negro.

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  5. é por isso que é necessario uma renovação na sociedade mundial. talvez aniquilação

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  6. Soh acho q nunca chegaremos a um consenso comum q inumeros divergencia de opniões. Todo mundo tem seu lado certo e o errado sobre as cotas, nao adianta fica jogando a culpa no outro.A culpa é de todos nós humanos. A unica forma de chegar em um fim, sobre o tema abordado "sistema de cotas", seria um plesbecito do povo. E nao meia duzia de governantes achando que sabe o q faz.

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  7. Sim, sou a favor.
    .
    Não dá para pregar a igualdade, agora que a desigualdade já está difundida.
    .
    É como se fosse uma corrida, mas os negros já largam lá atrássss....
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    Trata-se de uma política COMPENSATÓRIA e não racista ou assistencialista.
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    Claro, essa ação deve ver para compensar... e depois sim, se extinguir.

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  8. é muito interessante tratar a questao de racismo quando vc nao participa dela.Ary neto disse q seria uma politica compensatoria e depois acabar com ela.A escravidão durou mais de 500 anos e durante 500 anos haverá essa politica compensatoria?Eu prefiro concorda com a Monica com a votação de um plesbecito. A voz do povo é a voz de Deus, msm com uns concordando e outros naum, teremos certeza q naum haverá mais duvida sobre a opniao da maioria da população. Somos um país democratico e a democracia é aplicada dessa forma.

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