domingo, 25 de julho de 2010

O Mérito do Vestibular

"O vestibular impede o desenvolvimento da inteligência porque exige uma quantidade exagerada de informações. Como a maioria dos professores de Ensino Médio resolvem esta demanda? Adotam métodos questionáveis de instrução e condicionamento, como é o caso dos 'simulados'. Os 'simulados' são ações repetitivas de exercícios e problemas já empregados em exames vestibulares passados. É o condicionamento programado. O aluno, de tanto fazer 'simulados' relaciona uma palavra-chave à resposta esperada. O professor pode instruir o aluno para a prova, mas não o educa para a vida."

Rudá Ricci

Diz aê moçada. Vou continuar descrevendo aquele debate pouco comum que aconteceu na minha aula de cálculo um dia desses. No outro texto descrevi como a minha professora via a implantação das cotas no país, e aquela discussão toda levou à seguinte pergunta:

"Professora, mas não é uma injustiça? As cotas não tiram o mérito de quem passou no vestibular?"

E numa sala cheio de ex-vestibulandos, felizes e satisfeitos consigo mesmos:

"Ah, gente, vocês sabem que não existe esse mérito todo. Na verdade, não se mede o conhecimento. Se mede a capacidade de saber fazer o vestibular".

E não é que é verdade? Sempre existem provas com um determinado estilo, parecidas todo santo ano. Se você obtém uma quantidade razoável de conhecimento e resolve muitas, mas muitas provas anteriores, questões semelhantes, entende o jeitão da banca, a probabilidade de mandar bem é muito maior.

Vou dar um exemplo aqui do Rio de Janeiro. A primeira fase da UERJ é figurinha repetida. São quatro alternativas, onde duas são extremamente parecidas e duas claramente erradas. Existem macetes para se fazer as questões (portanto há professores que mais parecem estudiosos da prova do que da matéria que lecionam). Esse ano chegou ao meu ouvido, de fontes 'confiáveis' (um professor suspeito de um cursinho pré-vestibular mais suspeito ainda), que "pra UERJ tudo era metáfora." Frase simples. Tanto que nem precisava saber o que era uma figura de linguagem, só de ouvir isso se acertava pelo menos uma: a resposta da número um este ano foi letra B, metáfora.

Me digam, onde que isso prioriza o conhecimento, a capacidade de raciocínio de alguém? Na verdade, o que é posto em jogo é a capacidade de se adaptar ao que eles querem, entender situações previsíveis, saber fazer o que é pedido. Tudo bem, também é uma uma forma de seleção: mas muita gente estuda bastante e se dá mal porque não tem a habilidade na prova. Será que não há alguma coisa errada aí? Além do mais, a competição é injusta. Uma amiga da minha classe disse que seus professores davam as questões (claro que não diretamente, o que seria um crime). Ensinavam o estilo da prova, diziam o que ia cair. E realmente caía.

Isso tudo porque eu nem falei do emocional, do estado da pessoa no dia D. Einsten, se tivesse uma diarréia, na manhã do vestibular, não ia passar. Seria justo?





Não poderia deixar de dizer aqui da prova mais badalada do momento. Sou contra o ENEM do jeito que ele está. São 180 questões mais uma redação, textos enormes. Mede-se com mais eficácia, novamente, não o conhecimento: mas a resistência. Quem fez ano passado deve concordar comigo: parece uma prova do BBB. Quis no entanto ouvir a resposta da minha professora. Levantei então a mão e:

"Mas e o ENEM? Como ele entra nessa história?"

O que ela disse foi mais ou menos o seguinte: a prova é uma boa iniciativa do governo, porque urgentemente alguma coisa precisa ser mudada. E realmente, é necessária uma reforma, sem dúvida. "O que não pode é o ENEM se tornar uma prova viciada."

Tudo bem, é verdade. Ótima iniciativa. Mas de que adianta, se posta em prática, vira uma bosta também?

Eu sou um cara pessimista. É difícil o nosso sistema de vestibular mudar. Se prestarmos atenção, é tudo um complexo mercado: virou consumismo. É uma grande rede de dinheiro, e tudo que movimenta grana aqui nesse país é difícil de ser parado. Na verdade, a educação como um todo não é facil de mudar. Como dito no outro post, é tudo um ciclo vicioso onde a ignorância do povo favorece o dominio da sociedade por políticos corruptos e populistas.

E só pra fechar: informo-lhes que o pH é um cursinho tradicional do Rio de Janeiro, onde a mensalidade ultrapassa a casa dos mil e a aprovação para públicas faz jus ao preço. E se liga no que a mestra disse na sala, no meio da discussão:

"Se você estudou no pH e passou no vestibular, me desculpa gente, não fez mais do que a obrigação."

Não sei se foi o tom da voz dela, mas sei lá, será que só eu achei essa frase genial?





9 comentários:

  1. Sem dúvida, você escreveu sobre um dos temas mais polêmicos do Brasil. Ficam as questões a ser debatidas: será que é justo? Será que as cotas são meios de inserir mesmo ou apenas de maquiar o sistema? Qual é o melhor meio de avaliar os alunos? Infelizmente, parece que nosso país está longe de conseguir responder a todas as respostas corretamente.

    ResponderExcluir
  2. A questão mais pertubadora do Enem é que todo ano eu baixo a prova para ver o que o MEC exige e a prova é ridiculamente fácil o que prova que o padrão de exigência é baixissimo.

    Dou aulas voluntárias de inglês para crianças carentes, pois bem, passou mais tempo ensinando português o que mostra que o ensino está cada vez pior.

    Ai se tenta corrigir no ensino superior que é tido como direito das pessoas (eu vejo como mérito e não direito, mas essa é para depois) com a introdução de cotas (raciais ou sociais), mas isso só maquia a realidade.

    ResponderExcluir
  3. Boa critica !
    Os vestubulares, o enem esta chegando e fica sempre toda aquela pressão dos pais, professores e mídia encima. Não é justo que anos na escola seja testado em uma prova super cansativa e si . . . mas fazer oque né é o nosso belo sitema falho ! u.u*

    Seguindoo ! :)

    ResponderExcluir
  4. Eu venho acompanhando o blog a algum tempo, porem, nao comentando. Pois bem.Meu pai tem uma condição financeira boa, nao significando riqueza, e eu estudei no PH, nao pagando os 1000 reais.
    O curso ajudou em muita coisa,porem, nao eh tudo.Eu sempre quis estudar administração ou engenharia de produção,no entanto, no meu ano de vestibular as coisas mudaram da agua pro vinho.Nao consegui passar pelo enem, assim como outras pessoas inteligentissimas q eu conheço com seus respectivos cursos.A prova foi cansantiva, e assim como eu, muito outros q estudaram muito nao conseguiram passar.Outros, q apesar de terem brincando o ano todo,indo pra festa ou fazendo qualquer coisa inutil, e tiveram a sagacidade de fazer a prova melhor q eu, conseguiram entrar em cursos bons. Então te pergunto, onde uma prova de 180 questões, hoje 200, vai avaliar meu grau de inteligencia?Por mais q as questões sejam ridiculas, contem textos de uma pagina escrita no word. Se vc acha tão facil, Mario Machado,faça a prova em 4 horas, sentado em um cadeira merda,no calor, com o ventilador nao pegando nem 1/10 dos candidatos e gabarite-a. Voltando o assunto, passei para matematica, e apesar de ter haver com minha area, larguei de mao.Voltei para o pre vestibular esse ano.Então nao é o curso, e sim o aluno, o grau de interesse da pessoa influencia,obvio,mas nao é tudo.E apesar do estudo ser elitizado, onde que um estudante de baixar renda vai ter espectativa de vida para de torna um doutor?Acho q eles estão mais preocupados com o proximo funk que vai ser lançado, ou proximo baile que vai rolar no fds.As cotas sociais sao erros enormes tanto quanto as raciais,alunos do D.Pedro segundo,CEFET,FAETEC tem direito a esse tipo de cotas,e quem estuda lah são os moradores do morro da providencia?Nao sao.Com cotas ou sem cotas o ensino superior vai ser elitizado.É um questão de bom senso todo nosso sistema educacional, que por incrivel q pareça, ninquem nunca terá.

    ResponderExcluir
  5. Sou professor. E nunca achei que provas servem para avaliar algum aluno. Provas só servem para eles escreverem o que treinaram. Principalmente em Matemática, os alunos não estudam, eles decoram os exercícios.
    É uma situação complicada. =/

    Visita também?
    http://nolimitedamatematica.blogspot.com/

    abçS

    ResponderExcluir
  6. gostei das criticas q
    vc escreveu tem q
    criticar msm so a
    assim vão ver o q
    esta errado.

    ResponderExcluir
  7. Como estudante de educação, o ENEM e as cotas apenas confirmam a ineficiência do sistema público de ensino.

    ResponderExcluir
  8. Assuntos polêmicos com um toque de sarcasmo e uma dose realidade...
    Ótimo post.
    Enquanto a sociedade for hipócrita e ignorante, teremos sempre esse tipo de situação.
    Para o governo, uma sociedade ignorante é lucro. Enquanto não tivermos mudanças extremas na educação, infelizmente nosso Brasil não irá evoluir.
    Temos que nos unir, não somente em ano de copa do mundo, temos que nos unir para mudarmos o Brasil, exigir o direito das nossas próximas gerações terem a merecida educação.

    Se puder visita lá também =)
    http://floreiosdanoite.blogspot.com/

    Te seguindo! =D

    ResponderExcluir
  9. Assunto bem polemico !!!

    Não acho que o brasil tenha um meio de seleção eficiente... Anda mais se tratando do ENEM, e ate mesmo CEFET, milhares de pessoas fazendo uma prova para pouquíssimas vagas... Se a escola é do estado assim como todas as outras. então todas deveriam ser assim também...


    http://projetosdeumlouco.blogspot.com/

    ResponderExcluir